Reféns Israelenses libertados pedem o fim da guerra, para trazer os reféns restantes de Gaza para casa. Foto: Captura de tela do YouTube.
Os reféns Keith Siegel, Tal Shoham e Yarden Bibas foram entrevistados recentemente no programa “60 Minutes” da CBS News. Para Bibas, essa foi sua primeira entrevista desde que foi libertado do cativeiro do Hamas em Gaza.
Bibas, cuja esposa Shiri e dois filhos pequenos foram assassinados pelo Hamas durante o cativeiro, deu sua primeira entrevista a uma rede americana, esperando que o Presidente dos EUA, Donald Trump, ouça e tome medidas para ajudar a garantir a libertação dos reféns restantes.
“Se você pudesse dizer algo ao presidente Trump, o que diria?”, perguntou a apresentadora Lesley Stahl a Bibas.
“Por favor, pare, pare com essa guerra e ajude a trazer todos os reféns de volta”, respondeu Bibas.
Quando lhe perguntaram se ele acredita que Trump pode ajudar, Bibas respondeu: “Sei que ele pode ajudar”.
“Estou aqui por causa de Trump. Estou aqui somente por causa dele”, enfatizou. “Acho que ele é o único que pode impedir essa guerra novamente. Ele tem de convencer Netanyahu a convencer o Hamas. Acho que ele pode fazer isso.”
Bibas usava uma camiseta com as imagens de seus melhores amigos de infância - David Cunio e o irmão mais novo de David, Ariel, que ainda estão sendo mantidos como reféns em Gaza.
Ele disse a Stahl que não acredita que a retomada dos combates trará os reféns de volta.
Bibas descreveu o fato de ter sido mantido no subsolo durante a campanha terrestre Israelense e os bombardeios ao longo da guerra.
“É assustador. Você não sabe quando [os ataques Israelenses] vão acontecer. E quando isso acontece, você teme por sua vida”, disse Bibas. “A terra inteira se moveria - como um terremoto, mas no subsolo, de modo que tudo poderia desabar a qualquer momento.”
Bibas foi capturado e mantido separado de sua esposa, Shiri, e de seus dois filhos, Ariel e Kfir. Ele foi forçado a gravar um vídeo enquanto os terroristas do Hamas lhe diziam que eles haviam sido mortos em um ataque aéreo.
Após ser libertado do cativeiro, Yarden, que havia passado meses sem saber se sua família ainda estava viva, ficou arrasado ao saber a verdade: sua família havia sido assassinada pelo Hamas.
“Todos eles foram assassinados a sangue frio, com as mãos nuas”, explicou Bibas. “Eles [o Hamas] costumavam me dizer: 'Ah, não importa. Você terá uma nova esposa. Terá novos filhos. Uma esposa melhor. Filhos melhores.'”
Yarden também expressou sua preocupação com Cunio e seu irmaõ Ariel, especialmente desde que os combates recomeçaram.
“Os dois ainda estão em cativeiro e não sei se têm comida e água suficientes, especialmente agora que a guerra voltou”, disse Bibas.
Bibas e Cunio são melhores amigos desde a primeira série.
“Fazíamos tudo juntos”, comentou ele. “Ele esteve comigo em todas as grandes coisas da minha vida. Ele esteve em meu casamento”.
“Agora estou passando provavelmente pela coisa mais difícil da minha vida, e David não está comigo”, lamentou Bibas.
“Perdi minha esposa e meus filhos. Sharon [esposa de David Cunio] não pode perder seu marido”, declarou Bibas.
Além de Bibas, Keith e Aviva Siegel também falaram ao “60 Minutes”.
Os Siegels estavam morando no Kibutz Kfar Aza, perto da fronteira com Gaza, quando foram sequestrados de sua casa em 7 de outubro de 2023. Eles foram sequestrados em Gaza e mantidos juntos por 51 dias, até que Aviva foi libertada durante o acordo de cessar-fogo e reféns no final de novembro de 2023.
“Fomos levados para Gaza e depois para um túnel, nos sentindo em perigo, correndo risco de vida, com terroristas armados ao nosso redor”, disse Keith.
Ele descreveu ter testemunhado abuso e tortura durante seu cativeiro.
“Testemunhei uma jovem que estava sendo torturada pelos terroristas. Estou falando de tortura literal, não apenas no sentido figurado.”
“Vi agressões sexuais com mulheres reféns”, continuou Keith, afirmando que os terroristas do Hamas o forçaram a assistir.
Ele também observou que o tratamento aos reféns restantes piorou após o fim do primeiro cessar-fogo.
“Os terroristas se tornaram muito maus, muito cruéis e muito violentos, muito mais. Eles estavam me espancando e me matando de fome”, disse ele.
Quando perguntado se sua fome era uma privação intencional ou devido à falta geral de alimentos, Keith disse que passou fome deliberadamente.
“Muitas vezes eles comiam na minha frente e não me ofereciam comida”, explicou.
Siegel descreveu como recebia apenas meio balde de água por mês para tomar banho e como os terroristas raspavam sua cabeça e suas partes íntimas para humilhá-los.
“Acho que eles pensavam que isso os divertia ou, sabe como é, nos humilhava”, disse ele. “Eu me senti humilhado.”
O ex-refém Israelense Tal Shoham, que foi mantido junto com os reféns Evytar David e Guy Gilboa-Dalal, falou sobre seu tempo em cativeiro com eles.
Ele detalhou os espancamentos diários, as condições apertadas nos túneis e as escassas rações de comida.
“Você pode comer apenas um [pedaço de] pão por dia e beber 200 ml de água todos os dias, e continuará vivo”, disse Shoham.
Ele explicou que um dos guardas do Hamas lhes disse que poderiam permanecer vivos por até cinco anos com quantidades tão insignificantes.
“O guarda principal disse: 'Posso lhes trazer essa quantidade de comida e vocês sobreviverão e se manterão assim por cinco anos e não morrerão'", relatou.
Shoham, David e Gilboa-Dalal descobriram que um dos guardas gostava de receber massagens nas costas, o que eles usaram para trocar por melhores rações de comida.
Shoham observou que ambos os jovens lutaram contra a depressão durante o cativeiro e até discutiram sobre suicídio com ele.
“Eles me disseram mais de uma vez: 'Por que continuar vivo agora? Quero dizer, por que não tirar a própria vida com as próprias mãos, terminá-la e se libertar dela?”, contou ele.
“Eles não são crianças, mas, de vez em quando, eu me sentia como um pai para eles”, compartilhou Shoham.
“Eles são crianças”, disse o pai de Guy Gilboa-Dalal.
“Eu realmente temo que agora eles estejam sozinhos”, Shoham se preocupou.
Assim como Bibas, Shoham e as famílias de David e Gilboa-Dalal disseram que concordaram com a entrevista ao 60 Minutes porque “talvez alguém a ouvisse e salvasse nossos filhos”.